sábado, 14 de maio de 2016

2. Mundo Do Trabalho


Mundo do Trabalho 

Com o diploma embaixo dos braços, eu finalmente adentro ao mundo do trabalho
Com o papel timbrado devido saio da universidade desempregado
A única escolha que temos é vender o nosso tempo em troca de um salário?
E agora, como alimentar meus filhos? Como educá-los pra liberdade sem ser só mais um cínico?

Minha mãe, minha alma mater, de que adiantou tanto pensamento crítico?
Se os dados foram lançados, tudo tem um dono e há um único caminho?
Se, a depender dos parâmetros, todos os assalariados são trabalhadores escravos?
Se, em compromisso com a verdade, maior é a submissão quanto maior o suborno!

E agora, pra onde é que eu vou? E se eu não conseguir estudar e não passar no concurso?
Sou um Geógrafo, um Professor, um Artista ou mesmo ainda um Pesquisador-Tecnologista?
Na crise, devia estar agradecido pela universidade proporcionar-me um ofício!
A crise, que desfaz casa e emprego, mas que ainda assim enriquece os bilionários!

Fizeram com que eu preenchesse as bolinhas com a caneta preta em material transparente
Quiseram que eu fosse um robô, fizeram com que eu me entristecesse com aquilo que eu sou
Querem que eu repasse aos jovens a sua mensagem e que faça sentido!
Porém, ainda não estou morto, posso até cair de podre, mas eu nunca me rendo!

Revoltar-se urge — mas como?

E a liberdade que viria com a minha emancipação?
E o peso do mundo que só cresce em minhas costas?
E as doses mais altas pra aliviar minha frustração?
E o som sempre mais alto para abafar meus gritos?
E o semblante sempre mais fechado de indisfarçável ódio?
E quase tudo que existe e que pra mim é chiste?
E o que faz a todos rirem e que pra mim é muito sério?
[E o precariado que percebe quem carrega o mundo? Não há mais mistério!]
E o sorriso um pouco mais insano pra disfarçar meu desespero?
Que faço disso tudo se me sinto tão vivo?
Não sei que faço disso tudo mas sei que eu não me curvo.

Por migalhas, nos acotovelamos, fingimos ser civilizados, mas onde é que estamos?
Aceitamos desiguais privilégios, naturalizamos a submissão às dívidas
Querem que eu aceite calado e apoie o corporativismo dos sindicatos e partidos
Que de nada nos servirá além de nos levarem a ser depositários dos bancos

A mim, como a uma minoria, me impressiona como se monetariza a vida:
A Terra, que nos dá os recursos, nos foi espoliada e vendida a juros
O sexo, que faz de nós eternos, nos foi fabulado e igualmente vendido
O tempo, nossa maior propriedade, vendemos e gastamos com o que há de mais supérfluo

Anestesiados marchamos — até quando?

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