sábado, 14 de maio de 2016

8. Combustão Espontânea De Favela

Combustão Espontânea de Favela
[E as Remoções Forçadas Para a Copa] 

Aqui onde o sol não chega antes do camburão
E habitação, então, é caso de polícia
Aqui onde a morte é certa e só vira notícia
Pra desumanizar os jovens, o que já é esporte
Aqui onde a paisagem é lixo que suja a vista
Já que a riqueza que o viaduto ostenta é só passagem
E a vida doutro lado do muro é capa de revista
E a propaganda eleitoral é pura maquiagem

Quando o que a sociedade reclama
É a redução da maioridade penal
Então o agente da ordem não se engana
E viola garantia constitucional
Quando a cidade não se ama
E gera um não-lugar no que já era
Então o mercado imobiliário inflama
A combustão espontânea de favela

A madrugada é escura
A manhã violenta
A tarde sangrenta
A noite sem cura
A vida sem escolha
A noite sem cura
A vida sem escolha

Aqui onde a justiça manda reintegrar a posse
De um lote que não cumpria a sua função social
Pro banqueiro condenado até em paraíso fiscal
Não se finda, cresce muito o fundo do nosso poço
Aqui onde a fazenda manda metralhar indígena
Levando ao ultimato de um povo Guarani:
“Decretem nossa morte e nos enterrem aqui”
Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém ouve o Jejuvy

Quando quem financia o partido comunista
É o Mcdonalds e a Coca-Cola
Então o Estado todo ignora
As remoções forçadas para a Copa.
Quando o povo não se engana
Ocupa e se prepara para a guerra
Não há tropa de choque com a gana
Da luta, que é longa, dura e bela.

A madrugada é escura
A manhã violenta
A tarde sangrenta
A noite sem cura
Na vida, uma só escolha:
“Se resignar ou se indignar
E eu não vou me resignar nunca”

Nenhum comentário:

Postar um comentário